Quando investimos numa ação, devemos ter o pensamento de que vamos virar SÓCIOS da empresa, e que, portanto, vamos querer ficar com a ação para sempre. No entanto, há alguns momentos e situações que te podem obrigar a ter de vender uma ação.
É sobre esses momentos que vamos falar agora.
Volatilidade de curto prazo
O mercado da bolsa de valores, por ser variável, é muito inconstante. Ninguém pode esperar comprar a melhor ação do mundo, a um preço espetacular, e querer que ela seja positiva todos os dias. A volatilidade vai acontecer sempre, pois o mercado depende exclusivamente das emoções e vontades dos investidores.
Recente observámos um bom exemplo de como o mercado funciona à base de emoções. O CEO da Tesla, Elon Musk, apareceu num podcast no Youtube a fumar canábis. No dia seguinte, as ações da Tesla descerem 6,30%! Apenas por isso, por ter aparecido a fumar canábis. Não foi por a empresa ter dado resultados negativos, ou por ter falhado num teste de autonomia dos seus automóveis. Este foi um exemplo perfeito da volatilidade a que estamos sujeitos no curto prazo.
Agora se olharmos para a evolução das ações da Tesla nos últimos 5 anos, és capaz de identificar essa descida de 6%?
Provavelmente não, porque apesar da polémica, os fundamentos da empresa não mudaram, e a Tesla continuou na sua trajetória ascendente.
Emoções blindadas
Um dos atributos essenciais, que mais defendo e enfatizo, para se ser um investidor bem-sucedido é: Emoções blindadas. Não é te tornares num bloco de gelo sem emoções. É sim, deixares as emoções de lado no que toca a ler o mercado.
A melhor estratégia para isso, e que eu faço, é abrir a minha corretora apenas uma vez por mês, que é quando for investir. Em todos os outros dias não me interessa se a ação está a subir ou a descer. Se a empresa continua com os mesmos fundamentos de quando a comprei, então não faz sentido vender a ação. Ela continua a ser um bom investimento.
Há apenas uma exceção ás emoções blindadas de curto prazo, que é: Durante uma crise, uma correção ou crash na bolsa de valores, o preço da generalidade das ações tende a cair bastante. Nesse momento, as boas empresas tendem a ficar a preços de “saldo”, podendo o investidor encontrar grandes oportunidades de investimento.
Vender uma ação, enquanto investidor de longo prazo
Enquanto investidor de longo prazo, faz sentido vender uma ação? Esta é sempre uma questão que gera muitas dúvidas.
Se tens acompanhado o blog, já deves ter reparado que a minha estratégia de investimento é focada no longo prazo, chamada de “Buy & Hold” (comprar e manter a ação). Isto quer dizer que, antes de comprar uma ação, analiso muito bem a saúde financeira da empresa, as projeções futuras, se a dívida é sustentável ou não, e se o preço da ação está a um valor justo, ou até abaixo.
Ao fazer esta análise, e tendo em conta que historicamente o preço de uma ação tende a acompanhar os lucros de uma empresa, faz sentido eu querer ficar com a ação durante muitos e muitos anos e não a vender, certo? Em princípio esse investimento tem tudo para se valorizar e me dar bastante rentabilidade.
No entanto, há algumas situações que deves ter em conta, e que te podem levar a vender uma ação.
Ler mais sobre: Como analisar uma ação para investir.
5 únicos momentos para vender uma ação
Eis os 5 ÚNICOS momentos em que faz sentido te desfazeres de uma ação:
1) Os fundamentos da empresa deixaram de ser atrativos
Ao comprares uma ação, deves ter em conta uma série de indicadores de uma análise fundamentalista à empresa. Esses indicadores, como um conjunto, devem ser positivos, e mostrar-te que a vale a pena investir na empresa.
No entanto, devido a fatores internos ou externos, eles podem mudar significativamente. Pode haver um grande aumento no endividamento, a vantagem competitiva pode deixar de existir, queda do ROE, entrada de novos concorrentes e subsequente queda da quota de mercado, mudança nas necessidades dos consumidores, entre tantos outros.
Posso dar como exemplo da Nokia e da Blackberry. Nos anos 2000, eram as líderes destacadas da indústria dos telemóveis. Na teoria, os seus investidores não podiam estar mais contentes com os investimentos que fizeram nestas empresas. No entanto, com a entrada da Apple, da Samsung, e de outros concorrentes, muito mais inovadores e proativos à mudança, a Nokia e a Blackberry começaram aos poucos a perder o domínio do mercado, o que levou á perda dos seus fundamentos, e a muitas pessoas venderem as suas ações.
2) Precisas de liquidez para uma melhor oportunidade
Pode haver alturas em que surja alguma boa oportunidade de investimento, mas não tens liquidez disponível para entrar. Isso aconteceu bastante durante a crise do Covid-19, quando as bolsas mundiais caíram a pique, e muitas boas empresas tornaram-se bastante atrativas e “baratas”.
Quem tinha liquidez disponível, o chamado “caixa”, deu-se bem e aproveitou as oportunidades que o mercado lhe deu. Quem não tinha, uma das opções que teve foi vender ações para obter liquidez, e investir em empresas mais compensatórias do que aquelas que vendeu.
Pode-se dar o caso, também, de surgir oportunidades noutro mercado completamente diferente, como o imobiliário, e precisar de vender ações para conseguir investir na compra de uma casa, por exemplo.
3) Erro na análise do preço justo da ação
Errar faz parte do processo.
Nem Warren Buffett, o maior investidor da história, escapou de fazer alguns erros de avaliação durante a sua carreira. Ele vendeu grandes participações na Home Depot e na Disney demasiado cedo, devido a erros na avaliação das projeções e do preço justo destas empresas.
O segredo é aprender com os erros.
4) Precisas de dinheiro para socorrer um imprevisto
Ao investires para longo prazo, deves ter claro na cabeça, que esse dinheiro não vai ser necessário durante muitos anos, sendo uma espécie de dinheiro “fantasma”, pois podes vê-lo, mas não o podes sentir.
Antes de começares a investir, deveres sempre criar primeiro um fundo de emergência. Ele deve cobrir pelo menos 6 meses das tuas despesas. Pode-se dar a eventualidade de surgir um imprevisto que te obrigue a usar esse fundo, mas ele não ser suficiente, e por isso teres de recorrer à venda de ações para te socorrerem.
5) A empresa deixou de pagar dividendos (exclusivo para investidores focados em dividendos)
Uma das estratégias de longo prazo mais utilizadas, é a focada em dividendos.
Ela consiste em investir em empresas com histórico de alto e constante pagamento de dividendos, criando um fluxo de renda passiva mensal. Se uma dessas empresas cortar o pagamento de dividendos, então faz sentido o investidor vender a ação.
Conclusões
Como viste, nenhuma das razões diz que deves vender uma ação quando num só dia ela desceu 10% ou 15%. Se os fundamentos da empresa se mantêm iguais, ela continua a ser digna de permanecer na tua carteira.
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Disclaimer: Este artigo não constitui recomendação de compra ou venda de nenhum ativo. O intuito é contribuir com conhecimento e educação financeira para o investidor tirar as suas próprias conclusões, tendo em conta os seus objetivos e perfil de investimento.