Muitos portugueses que estão a dar os primeiros passos nos investimentos, perguntam-se: Onde é que eu posso investir em Portugal? Será que é rentável? Será que vale a pena? Não é melhor investir no estrangeiro?
Como já falei noutros artigos do blog, a diversificação é um elemento essencial para o sucesso de um investidor. Portanto, sendo um investidor português, faz todo o sentido diversificar os meus investimentos investindo no meu país.
Existem muitas opções para se investir em Portugal. Algumas mais conservadoras, e outras mais arriscadas.
É sobre essas opções que vamos falar agora.
Porquê investir em Portugal?
Olhando para uma perspetiva mais generalizada, assim como na maior parte dos países do mundo, a economia em Portugal sofreu muitas mudanças desde o início da pandemia de COVID-19 em 2020.
A Comissão Europeia (CE) prevê que a economia europeia irá sofrer uma retração de até 7,7%, mas com recuperação de 6,3% em 2021.
No entanto, Portugal aparece como um dos países menos afetados, com uma contração inferior à média europeia. O que é surpreendente, visto que o turismo, uma das bases económicas do nosso país, foi um dos setores mais afetados com a pandemia.
Outra das grandes qualidades de Portugal é a segurança. De acordo com o Global Peace Index 2020, Portugal é o terceiro país mais seguro do mundo, atrás apenas da Islândia e Nova Zelândia.
Graças a isso, atrai um grande número de turistas e estrangeiros.
Outro segmento que cresceu bastante foi o imobiliário. Com os incentivos fiscais do governo, o setor expandiu-se gradualmente. De acordo com o INE , o programa Golden Visa Portugal, por exemplo, bateu recordes nos últimos anos, atraindo muitos investidores estrangeiros ligados ao imobiliário.
A remuneração bruta mensal por trabalhador também aumentou em 2,8%. Como consequência, um grande número de pessoas imigraram para Portugal, principalmente brasileiros.
Os impostos
Para quem está agora a começar ou a pensar em investir, vê por aí muita informação sobe investimentos nos EUA. Por ser uma das maiores economias do mundo, pelos incentivos ao empreendedorismo e à inovação, pela rentabilidade das bolsas de valores, etc.
Os EUA têm então muitos ingredientes para fazer qualquer investidor feliz. Há, no entanto, um ponderador negativo para os investidores estrangeiros, que são: Os impostos.
Ao investires nos EUA, quando recebes qualquer dividendo, uma percentagem é automaticamente retida na fonte e outra percentagem deve ser paga no teu país.
No caso de um investidor português com investimentos nos EUA:
– 30% do valor do dividendo é automaticamente retido na fonte, e posteriormente tem de pagar mais 28% na declaração do IRS (58% ao todo).
– Se a corretora permitir aplicar o acordo para a dupla tributação entre EUA-Portugal (a Degiro já o permite), a retenção dos dividendos nos EUA é reduzida para 15% em vez de 30% (43% ao todo).
– Se for num país da União Europeia não há qualquer dupla tributação. Não se paga retenção na fonte no país de origem, apenas em Portugal.
Esta questão dos impostos nos EUA realmente pode-nos fazer refletir um pouco melhor sobre a nossa estratégia de investimentos.
Ao investir em Portugal, além de estarmos mais a par das notícias sobre a economia ou a política portuguesa, esta questão dos impostos exagerados no exterior também pode ser um ponto positivo para se investir em Portugal, sendo português.
Investir em Portugal para os portugueses
Há muitas oportunidades para investidores estrangeiros no nosso país, mas também há para os próprios portugueses.
Há vários tipos de investimentos que podes fazer, desde os mais arriscados aos mais seguros.
Vamos ver então alguns deles.
Bolsa de valores
É verdade que a bolsa de valores de Portugal não é a mais rentável do mundo, aliás nos últimos 5 anos (08/01/2016 a 06/01/2020) foi de apenas 0,83%. Um valor que é positivo muito graças à alta dos últimos 2 meses.
No entanto, apesar da baixa rentabilidade, as ações portuguesas têm fama de serem boas pagadoras de dividendos. São então uma boa opção para os portugueses que pretendem que os dividendos cubram o seu estilo de vida, de forma a atingir a independência financeira. É claro que como historicamente os retornos da bolsa não foram os melhores, apesar de se poder atingir a independência financeira através dos dividendos, há o risco do património se desvalorizar.
Ainda assim, algumas das ações do PSI-20 tiveram retornos interessantes.
Vamos a exemplos:
Empresa | Dividend Yield (%) | Retorno a 5 anos (%) |
Navigator | 11,32 | -24 |
Nos | 9,39 | -54 |
Galp | 7,79 | -14,5 |
REN | 7,18 | -6,37 |
SONAE | 6,81 | -33,25 |
Altri | 5,76 | 47,71 |
EDP | 3,50 | 73,40 |
Jerónimo Martins | 2,45 | 27,70 |
A alta distribuição de dividendos é uma das formas que as empresas na bolsa portuguesa têm de atrair investimento.
Ler mais sobre: Como funciona a bolsa de valores.
Fundos de Investimento Mobiliários
Os Fundos de Investimento são fundos que aplicam o capital dos investidores em “cestos” de ações e obrigações geridos por profissionais nos bancos e corretoras. O seu património é dividido em unidades de participação. Ao comprares o fundo, o seu valor vai subindo ou descendo conforme o comportamento do conjunto dos seus ativos nas bolsas.
É, portanto, uma aplicação financeira que sendo variável, não garante taxas de rendimento. Permite-te ter investimentos na bolsa, sem estar diretamente nela. Pode ser uma ótima opção de investimento para um investidor iniciante sem grande tempo e conhecimentos da matéria.
Em 2018, o parlamento português aprovou uma lei que tornou os fundos de investimento num investimento qualificado para solicitar o Golden Visa Portugal.
Vejamos então a rendibilidade anualizada em 2020 e a 5 anos, de fundos de ações internacionais:
Fundo | 2020 (%) | 5 anos (%) |
BPI Ações Mundiais | 10,36 | 12,07 |
BPI África | -14,47 | -2,18 |
BPI Ásia Pacifico | 16,56 | 7,64 |
Caixa Ações Líderes Globais | 7,92 | 10,77 |
Caixa Ações Oriente | 13,38 | 7,59 |
Caixagest Ações Emergentes | 8,60 | 7,42 |
IMGA Global Equities Selection – CA | 3,65 | 6,74 |
NB Mercados Emergentes | 4,91 | 7,32 |
NB Momentum Sustentável | 7,58 | 6,45 |
Rendibilidade anualizada em 2020 e a 5 anos, de fundos de ações da América do Norte:
Fundo | 2020 (%) | 5 anos (%) |
BPI América – CD | 10,73 | 10,58 |
BPI América – CE | 16,19 | 10,20 |
Caixa Ações EUA | 1,25 | 9,48 |
IMGA Ações América – CA | 8,78 | 10,04 |
Santander Ações América – CA | 9,81 | 9,92 |
Plano Poupança Reforma (PPR)
Um Plano Poupança Reforma (PPR) é outra forma de investir em Portugal.
É um produto financeiro com previsibilidade do rendimento, que visa rentabilizar o teu dinheiro a longo prazo e com condições mais vantajosas do que outros produtos de poupança disponíveis no mercado.
Investir num PPR equivale a investir num complemento da reforma, com a vantagem de ter grandes benefícios fiscais.
Benefícios fiscais dos PPR em sede de IRS
- Na subscrição
Consoante a idade de quem subscreve um PPR, o benefício fiscal pode chegar a um montante até 400€ por ano.
O montante máximo da dedução no IRS varia tendo em conta a idade do investidor:
- Menos de 35 anos pode deduzir até 400€, desde que aplique 2000€ no PPR, nesse ano;
- Entre 35 e 50 anos, o limite máximo admitido é 350€, desde que aplique 1750€;
- A partir dos 50 anos, pode deduzir até 300€, desde que aplique 1500€.
Podemos concluir que quanto mais cedo se investir num PPR, maior será a dedução no IRS. Ao mesmo tempo, quanto mais cedo também começares, maior será a poupança que o PPR irá trazer, e mais tranquila será a tua reforma.
- No resgate
A favorável tributação no resgate de um PRR é um dos seus grandes atributos. Isto porque a taxa de IRS pode ser reduzida consoante o modo como é feito o resgate.
Se pretenderes levantar a totalidade do capital, pagas uma taxa de apenas 8% sobre o rendimento obtido, em vez do imposto de 28% aplicado a quase todos os outros produtos. Porém, para usufruíres desta taxa reduzida, terás de fazer o resgate num dos seguintes termos:
- 5 anos após a subscrição;
- Após os 60 anos;
- Em caso de reforma por velhice;
- Independentemente da idade, se o dinheiro for usado para pagar as prestações do crédito à habitação, mas não para amortizá-lo antecipadamente;
- Estar desempregado (longa duração) ou adquirir incapacidade permanente para o trabalho;
- Confirmar uma doença grave no seu agregado familiar.
Tipos de PPR
Existem 2 tipos de PPR: sob a forma de fundo e de seguro. Os fundos PPR têm maior potencial de valorização, mas a rentabilidade não está garantida.
Já os seguros PPR têm rentabilidades mais baixas, mas o capital está garantido.
Vejamos as diferenças:
- PPR sob a forma de fundo: Os fundos PPR são fundos de investimento de pensões também conhecidos por FPR – Fundos Poupança Reforma.
Dos 62 em comercialização, todos eles tiveram rentabilidade positiva em 2019.
Fundo PPR | Seguradora | Rentabilidade anual 2019 (%) | Rentabilidade anual 3 anos (%) |
Alves Ribeiro PPR | Banco Invest | 15,2 | 7,1 |
NB PPR/OICVM | Novo Banco, Best, ActivoBank, Invest | 12,0 | 6,8 |
PPR 5 estrelas | Montepio, Futuro | 4,1 | 1,7 |
PPR Big Ações Alpha | Banco Big | 13,2 | 2,6 |
Bankinter 75 PPR/OICVM – Classe A | Bankinter | 15,5 | 2,5 |
PPR Geração Ativa | Montepio, Futuro | 7,1 | 2,1 |
PPR Europa | Millenium BCP, Ocidental | 7,9 | 1,6 |
- PPR sob a forma de seguro: Os seguros são a modalidade de PPR mais comum e são, normalmente, designados apenas por PPR.
Estes PPR são seguros de capitalização mediante os quais a seguradora aplica o montante que o aforrador investiu num fundo autónomo. Possuem por isso capital garantido e um rendimento mínimo.
Os 28 em comercialização renderam em média 1,1% em 2019. Tendo em conta que a inflação de Portugal em 2019 foi de 0,3% então o rendimento médio destes PPR foi superior.
Seguro PPR | Seguradora | Rentabilidade anual 2019 (%) | Rentabilidade anual 3 anos (%) |
Lusitania Poupança Reforma PPR | Lusitania Vida | 3 | 3,5 |
Plano Poupança Reforma PSN | PSN Mutua de Seguros | 2,4 | 3,3 |
PPR Rendimento Total | Lusitania Vida | 1,5 | 2,1 |
Viva PPR XXI | Una Vida | 0,9 | 1,8 |
Fundos de Investimento Imobiliários
Os fundos de investimento imobiliário são fundos geridos por profissionais, que utilizam o capital dos seus investidores e aplicam em terrenos e imóveis, como por exemplo, escritórios, lojas, habitações, entre outros. Tal como nos fundos de investimento mobiliários, os valor do património do fundo é dividido por todos os investidores sob a forma de unidades de participação (UP’s). O seu principal objetivo é a compra de imóveis com o propósito de os rentabilizar através das rendas ou vendas dos mesmos.
No post que fiz sobre os fundos de investimento imobiliários americanos, os REITs, concluímos que a rentabilidade e a distribuição de dividendos de muitos deles tem sido impressionante nos últimos anos.
Em Portugal, até há pouco tempo, o desempenho dos fundos de investimento imobiliário e do investimento em imóveis físicos, era completamente dispare.
Há cerca de 2 anos o cenário mudou. Tal como podes ver na imagem abaixo, a rentabilidade anual a Outubro de 2020, foi positiva em quase todos os fundos que analisei, com uma média de retorno de 3%.
Fundo | Tipo | 2020 (%) | 5 anos (%) |
Fundimo | Rendimento | 6,06 | 3,67 |
Imofomento | Rendimento | 2,39 | 3,16 |
Valor Prime | Rendimento | 3,34 | 0,85 |
VIP | Rendimento | 3,88 | 3,52 |
AF Portfólio Imobiliário | Acumulação | 3,45 | 3,93 |
CA Património Crescente – CA | Acumulação | 4,10 | 4,30 |
Imonegócios | Acumulação | 5,65 | 1,73 |
Os fundos de rendimento distribuem dividendos aos investidores de forma periódica. No caso dos fundos de acumulação, a distribuição dos seus rendimentos são acumulados diretamente na carteira do investidor, permitindo-lhe criar o efeito do juro composto.
Ler mais sobre: Os juros compostos: Como multiplicares o teu dinheiro.
Certificados de aforro
Os certificados de aforro são produtos de poupança muito requisitados pelos investidores mais conservadores, visto ter como base dívida pública, ou seja, emprestas dinheiro ao Estado Português. Por norma o risco deste tipo de produto em Portugal, é quase nulo, visto a probabilidade de o Estado falir é diminuta.
É um produto que atrai as poupanças de muitos portugueses, sendo este um produto em que o dinheiro investido está seguro, pois existe a garantia total do capital inicial e o seu rendimento é superior ao dos depósitos a prazo, nos dias de hoje. É um produto de capitalização trimestral, ou seja, de três em três meses vencem-se juros, mas em vez desses juros serem debitados na tua conta, os mesmos são acumulados juntamente com o capital investido. Assim o valor do teu certificado passa a ser Capital Inicial + Juros Vencidos para desta forma gerarem mais juros.
Os Certificados de Aforro são então outro produto que cria juros compostos.
Conclusões
Como viste, existem várias formas de investir em Portugal. Com uma análise correta, os retornos podem ser bastante interessantes.
Ao investires no teu país, estás a colocar dinheiro para impulsionar a economia portuguesa.
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Disclaimer: Este artigo não constitui recomendação de compra ou venda de nenhum ativo. O intuito é contribuir com conhecimento e educação financeira para o investidor tirar as suas próprias conclusões, tendo em conta os seus objetivos e perfil de investimento.