Como criar um portfólio de investimentos
A definição e construção de um portfólio pode ditar o sucesso dos teus investimentos a curto, médio e longo prazo. Se achas que investir é só comprar as ações da moda e esperar que elas se valorizem, então podes estar a ir por um caminho muito atribulado.
Neste artigo explico-te a melhor forma de criar um portfólio de investimentos que sobreviva a qualquer tempestade e seja consistente ao longo do tempo.
O que é um portfólio de investimentos?
Um portfólio de investimentos, também chamado de carteira de investimentos, é o conjunto de aplicações financeiras pertencentes a um investidor. Essas aplicações podem ser de renda variável, como ações, ETF’s, critptomoedas, ou podem ser de renda fixa, como obrigações, PPR’s ou certificados de aforro.
Uma maneira fácil de representar um portfólio é imaginar um gráfico de “pizza”, cujas porções representam as classes de ativos.
O portfólio é a base de uma estratégia de investimentos. Ele deve ser organizado e estruturado consoante o teu perfil de investimentos, seja ele mais avesso ao risco ou não, consoante o teu horizonte temporal e os objetivos de investimento. Esses 3 ingredientes são a base para pensar em qual a melhor forma e os melhores ativos para compor um portfólio.
Agora uma dica de ouro: Um bom portfólio é aquele que atravessa por crises de uma maneira tranquila e sem grandes perdas.
Lembras-te da história de Arca de Noé? Prevendo um forte dilúvio, Noé construiu uma arca para abrigar a sua família e os seus animais, de forma a que eles sobrevivessem e passassem por essa tempestade sem sofrer.
Um bom portfólio de investimentos é igual à arca de Noé: precavido e preparado para qualquer tempestade nos mercados. As crises vão haver sempre, são inevitáveis. A economia passa por ciclos e quando chega uma crise, muitos investidores fazem a mesma pergunta: O que eu devo fazer para sobreviver a esta crise? A resposta é simples: Deviam-se ter preparado antes.
Vejamos agora os passos para montar o portfólio de investimentos ideal para qualquer investidor.
Como montar um portfólio de investimentos
Um portfólio de investimentos bem construído deve ter em conta os seguintes aspetos:
1. Perfil do investidor
O perfil do investidor refere-se às características que definem uma estratégia de investimentos, principalmente em relação à sua tolerância ao risco.
Essas características funcionam como um guia para definir quais as aplicações financeiras que mais combinam com o teu perfil.
Respondendo a algumas questões sobre expectativas de torno, disponibilidade para acompanhamento do investimento, tolerância ao risco e conhecimentos sobre o mercado financeiro, poderás definir o teu perfil de investidor.
De forma resumida, os perfis são:
Conservador
É bastante controlado e prefere produtos de baixo risco, para garantir que não perde capital, e que o consegue preservar no tempo. Esses produtos podem ser ouro, certificados de aforro ou PPR’s.
Como não pretende volatilidade na sua carteira, procura o máximo de segurança e previsibilidade nos seus investimentos;
Moderado
Este perfil tem uma mínima exposição ao risco no curto prazo, contando que os seus objetivos estejam garantidos no médio e no longo prazo. Pretende uma geração de renda frequente e previsível, que tenha pouca volatilidade.
Como está disposto a assumir alguns riscos, mas de forma ponderada, investe em ETF’s, ações líderes de mercado, REITs e produtos de renda fixa, como PPR’s ou bilhetes do tesouro.
Arrojado
Está disposto a correr bastantes riscos para ter um maior retorno, e por isso não se importa com a volatilidade de curto prazo. Tem tendência para investir em produtos menos seguros, mas com probabilidade de serem mais rentáveis.
Esses produtos podem ser ações de crescimento, criptomoedas e peer-to-peer lending (empréstimo entre pessoas, sem a intervenção de uma instituição financeira tradicional).
Mix
Pode-se também adotar um mix de todos os perfís.
De notar que o teu perfil pode mudar ao longo dos anos. Por exemplo, eu quando comecei a investir, tinha um perfil mais conservador, porque tinha muitos receios. Mas há medida que fui adquirindo mais estabilidade e conhecimentos sobre o mercado financeiro, então fui caminhando para um meio-termo entre todos os perfís.
2. Objetivo de investimento
Outra das perguntas que deves fazer antes de começares a criar o teu portfólio de investimentos é: Qual é o objetivo para os teus investimentos?
- Atingir a independência financeira?
- Criar uma poupança para uma reforma tranquila?
- Obter uma fonte de rendimentos adicional?
- Garantir um futuro financeiros para os filhos?
- Comprar uma casa ou um carro?
Ter um objetivo claro e bem definido, funciona como uma bússola para os teus investimentos. Ele indicar-te-á para onde deves ir.
3. Horizonte temporal
Qual é o horizonte temporal para o qual necessitas de investir para atingir o teu objetivo?
Dependendo do prazo, podes ter de arriscar mais, ou não, para ter o retorno pretendido.
A conjugação do perfil de investidor relativamente à tua tolerância ao risco, com os objetivos de investimento e o horizonte temporal para atingir esse objetivo, definem os aspetos básicos para a definição de um portfólio de investimentos.
4. Diversificação
Falemos então sobre o ponto mais importante de um portfólio de investimentos de sucesso: a diversificação.
A diversificação de investimentos é a alocação do património em diferentes ativos ou classes de ativos. Ou seja, é uma forma estratégica de reduzir os riscos dos investimentos e ampliar os seus ganhos. É o chamado “não colocar todos os ovos na mesma cesta”.
Na prática corresponde a investir em várias classes de ativos diferentes, como ações, REITS, ETF’s, critptomoedas, ouro, PPR’s, etc., dos mais variados setores, indústrias e localizações geográficas. Ao termos esta variedade de ativos, reduzimos o peso de cada risco individual.
Imagina que só tens ações do Facebook, e os tribunais dos EUA decidem suspender a atividade das suas redes sociais durante 1 mês. Provavelmente as suas ações irão sofrer um grande impacto negativo, e cair, vamos imaginar, 30%.
Ao teres apenas ações do Facebook, o teu impacto vai sofrer uma queda de 30%.
Caso tivesses um portfólio mais diversificado, com mais ativos de classes diferentes, o impacto dessa queda das ações do Facebook seria muito mais reduzido.
Por melhor que seja um investidor, ninguém consegue prever o futuro. Os ativos que hoje dão bastante retorno, como a Bitcoin, Tesla, etc., daqui a 10 ou 20 anos podem não valer nada.
A diversificação assume o papel de “rede”, que ampara quedas dentro de um portfólio.
4.1 O segredo de um portfólio de investimentos diversificado
Warren Buffett, o guru americano dos investimentos, investe há mais de 80 anos e ficou bilionário. Se eu fizer a mesma estratégia dele, é garantido que vai dar certo? Não.
Se uma pessoa que investisse em empresas e na economia da Venezuela, Bulgária ou Roménia, tivesse usado a mesma estratégia que ele usou para investir nos EUA, ela estaria falida. Nesses países que passaram por grandes crises, revoluções e inflações gigantescas, uma pessoa que copiasse a estratégia de Warren Buffett não ia ser bem sucedida, porque os países entraram em declínio económico, ao contrário dos EUA. Aliás, ainda iam rir do investidor, porque no final ele ficou no mesmo patamar de todos os outros que nunca investiram dinheiro nenhum, mas que pelo menos usaram esse dinheiro para algum benefício próprio.
Não se pode copiar a estratégia de um vencedor, sem considerar que esse mesmo comportamento poderia gerar muitos derrotados pelo mundo, usando a mesma estratégia que a dele. Circunstâncias não definem certezas.
Não é garantido que uma estratégia e um portfólio de investimentos que funciona num país, funcione noutra realidade.
Hoje o ouro é um dos ativos mais usados para preservação de capital, principalmente pelo seu histórico e escassez. Mas quem sabe se a NASA nas suas viagens espaciais não irá descobrir ouro em Marte, por exemplo? Dessa forma diminuiria a escassez do ouro e o seu valor.
No meu ponto de vista, o facto de ninguém conseguir prever o futuro, faz do segredo, para um portfólio bem sucedido e rentável ao longo do tempo, ser diversificar ao máximo.
Segundo o livro “You Can Be a Stock Market Genious” de Joel Greenblatt, bastam:
– 2 ações para reduzir o risco em 46%.
– 8 ações para reduzir em 81%.
– 16 ações para reduzir em 93%.
Quanto mais diversificado estiver um portfólio de investimentos, menor é o risco.
4.2 Cash is king
Outro segredo muito importante é teres uma parte do teu portfólio de investimentos alocado em “caixa”. Este é um termo utilizado para descrever o dinheiro que tens guardado numa aplicação bastante líquida, como uma conta remunerada com uma taxa alta, ou certificados de aforro, por exemplo. No máximo com líquidez até d+1, ou seja, conseguires resgatar o dinheiro no máximo até ao dia seguinte.
Ao teres esta alocação, permite-te ter sanidade mental para ultrapassar uma crise e poderes aproveitar boas oportunidades no mercado.
Em 2020 o S&P 500 (principal índice norte-americano, composto pelas 500 maiores empresas dos EUA) sofreu uma queda histórica de quase 30% em menos de 1 mês. Nessa altura, quem tinha caixa, foi rei. Imagina quantas empresas estavam a preços de “saldo”.
No meu caso, com o caixa que tinha disponível, consegui comprar ações da Disney a $103 (estão a $190 agora), da Microsoft a $166 ($229 agora) ou do Facebook a $219 ($254 agora).
O caixa é a tua reserva de oportunidade.
4.3 O efeito da correlação entre ativos
Além de ser essencial diversificar um portfólio de investimentos, é importante que ele também passe por qualquer crise económica de forma tranquila e sem grande volatilidade.
Para isso, é importante escolher ativos que tenham correlação negativa entre eles. Correlação é a forma de se medir como dois ativos diferentes se relacionam.
Quer isto dizer, que quando um ativo se valoriza, o outro segue na direção oposta.
Usando um exemplo do nosso dia-a-dia, podemos dizer que existe uma relação negativa entre a venda de gelados e a venda de roupas de inverno. Nessa caso dizemos que existe uma correlação negativa ou contrária entre a venda desses produtos.
Nos mercados financeiros há produtos que também se costumam relacionar da mesma forma.
Normalmente numa crise acontece uma coisa: Os investidores vendem parte dos seus ativos de renda variável como ações, REITs ou ETF’s e migram para ativos que lhes garantam mais segurança, como o ouro ou obrigações. Olhando para o gráfico abaixo, conseguimos verificar a correlação negativa que tem existido entre as ações e o ouro ao longo das últimas décadas.
A melhor maneira de te precaveres para uma crise, é diversificando o portfólio de investimentos em várias classes de ativos, em que algumas sejam negativamente correlacionadas.
Imagina que na crise nos mercados de 2020 causada pelo Covid-19, a tua carteira era diversificada e com ativos negativamente correlacionados. Muito provavelmente as tuas ações, REITs e ETF’s sofreram um forte abalo, mas por outro lado, esse abalo foi compensado pela subida do preço do ouro e das obrigações.
4.4 O impacto da diversificação na rentabilidade
A diversificação dos investimentos traz menos rentabilidade? Não. O que a diversificação faz é reduzir a oscilação. Assim, a rentabilidade é assegurada e as perdas amortecidas.
Imaginando um investidor que tinha uma carteira composta por ações da Tesla e da AT&T. Se tivesse colocado todo o dinheiro na AT&T, em 1 ano, esse investimento tinha-se desvalorizado 24,29%. No entanto, tendo a Tesla na carteira, essa queda foi absorvida pelo alto retorno da empresa de Elon Musk, obtendo um rendimento positivo na carteira.
5. Definição das porções dos ativos
Depois de já saberes as bases para montar o teu portfólio de investimentos, chegou a hora de definir as porções das classes de ativos que vais ter no teu portfólio.
Independentemente do perfil de investimento, horizonte ou objetivo, qualquer investidor deve diversificar da melhor maneira possível a sua carteira.
Dessa forma, as classes de ativos que considero indespensáveis são:
- Ações
- ETF’s
- REITs
- Criptomoedas
- Ouro
- Obrigações
- Caixa (dinheiro altamente líquido)
- Renda fixa (PPR’s, certificados de aforro, bilhetes do tesouro, etc.)
E não falo em investir tudo num só país, como muita gente faz com os EUA. A melhor forma de diversificar é fazer investimentos em várias zonas geográficas.
Um pessoa mais conservadora, pode definir que a sua porção de renda fixa ocupe, por exemplo, 70% do seu portfólio de investimentos, mais 20% para obrigações e 10% para ouro.
Uma pessoa de perfil moderado, pode definir 30% para renda fixa, 20% para ETF’s, 20% para obrigações, 10% para REITs, 10% para ações consolidadas e 10% para caixa.
Um perfil mais agressivo, pode optar por 30% de ações de crescimento, 20% de criptomoedas, 20% ETF’s, 20% caixa e 10% REITs, por exemplo.
Alguém de perfil mix, onde eu me enquadro, e que considero ser o mais viável, poderia ter 20% ações de crescimento e consolidadas, 20% REITs, 10% ETF’s, 10% criptomoedas, 10% ouro, 10% obrigações, 10% de caixa e 10% em renda fixa. Ter um pouco de tudo é a melhor maneira de nunca seres surpreendido pelo mercado.
6. Rebalanceamento do portfólio de investimentos
Após um investidor montar o seu portfólio e definir as percentagens de cada classe de ativos no seu portfólio, essas percentagens podem facilmente ser alteradas graças ás movimentações do mercado.
Imagina um portfólio composto por 30% de ações. Caso a bolsa esteja num momento de alta, as ações podem-se valorizar e o seu peso no portfólio pode subir até aos 40%. Nesse caso é necessário um rebalanceamento dos ativos, vendendo parte das ações, para que a sua percentagem no portfólio volte a 30%.
Um rebalanceamento exige um acompanhamento de perto por parte do investidor, podendo este ser feito de forma semestral ou anual, por exemplo, e envolve a venda de ativos de alto desempenho, substituídos pelos de menor rentabilidade.
Achas que este conteúdo foi útil para ti? Se tiveres sugestões ou alguma dúvida envia-me um email, eu estou disponível para te ajudar.
Disclaimer: Este artigo não constitui recomendação de compra ou venda de nenhum ativo. O intuito é contribuir com conhecimento e educação financeira para o investidor tirar as suas próprias conclusões, tendo em conta os seus objetivos e perfil de investimento.