Como criar um fundo de emergência e onde aplicá-lo
Antes de começar a preparar a reforma e o caminho para a independência financeira, há algo que qualquer pessoa, seja ela investidora ou não, deve fazer: Criar um fundo de emergência. Mas será que sabes mesmo qual é a sua devida importância?
Neste artigo explico-te a importância de ter um fundo de emergência e as melhores aplicações para o guardares.
O que é um fundo de emergência?
Tal como o nome indica, um fundo de emergência é um montante reservado exclusivamente para uma eventualidade ou um imprevisto. Em bom português, é um “pé de meia” que te irá dar algum fôlego financeiro em caso de emergência.
Nos tempos dificeis que vivemos, presenciámos a importância que é ter uma rede de segurança. Infelizmente por causa da pandemia de Covid-19, que surgiu repentinamente, muitas pessoas perderam os seus empregos e as suas fontes de rendimentos, ou pelo menos viram-nas parcialmente cortadas, nos casos de pessoas que entraram em lay-off. Empregados de cafés e resturantes, cabeleireiros, colaboradores de lojas, bares ou discotecas, viveram e continuar a viver um período de muita incerteza e dificuldades.
Talvez nunca se tenha dado tanta importância ao fundo de emergência como nestes tempos. Quem no passado tinha feito um esforço económico para conseguir criar esta “rede de salvamento”, de certeza que passou estes confinamentos com um pouco mais de desafogo.
A imagem abaixo é uma analogia perfeita à função do fundo de emergência. Apenas “partir o vidro” em caso de emergência.
Quando usar o fundo de emergência?
O fundo de emergência deve ser usado em casos de extrema necessidade, não cobertas pelo orçamento familiar, tais como:
- Emergências médicas;
- Perda de emprego e respetivos rendimentos;
- Reparos do carro ou da casa;
- Dificuldades no negócio próprio.
Quanto deve ter o fundo de emergência?
Esta costuma ser a questão que mais se coloca quando se pretende criar o fundo de emergência: afinal quanto é que eu devo juntar?
O valor depende muito do estilo de vida de cada pessoa. As boas práticas financeiras recomendam um montante equivalente entre 6 meses a 1 ano de despesas mensais. A pandemia veio reforçar a importância de ser 1 ano.
Então, se tens em despesas mensais (renda da casa, gás, luz, água, alimentação, internet, etc.) 500€, o ideal será teres de parte entre 6 ou 12 vezes esse valor, ou seja, 3000€ a 6000€.
Fotografia das despesas
Para se chegar a esse montante, o ideal é ter uma fotografia exata das despesas. Valores que sejam claros e exatos, divididos por categorias. Normalmente as pessoas só têm uma ideia de quanto gastam por mês. Mas da ideia ao valor certo, muitas vezes ainda vão algumas dezenas ou centenas de euros.
Para ter essa fotografia, opta por fazer um excel durante pelo menos 2 meses, onde apontas todas as tuas despesas. No final desse tempo, faz uma média das despesas pelos vários meses que apontaste.
Imagina que no primeiro mês, o valor total das tuas despesas foi de 654€. No segundo mês o valor foi de 672€. O valor médio, e aquele que será a tua referência para criares o fundo de emergência, será (654+672)/2 = 663€.
Já tendo o teu valor base, multiplicas por 6 ou 12 meses, para teres o valor exato que precisas por compôr o fundo. Neste caso será 3978€, para o caso de pretenderes fazer um fundo de emergência para suportar 6 meses, ou 7956€ para 12 meses (o mais aconselhável).
Onde aplicar o fundo de emergência?
O fundo de emergência deve ter 2 regras essenciais:
- Estar num sítio seguro e de baixo risco;
- Ter bastante liquidez, no máximo até d+1 (dia seguinte).
Como não é suposto o valor do fundo ser rentabilizado, o objetivo é que ele esteja numa aplicação segura e de baixo ou nenhum risco associado.
Além disso, como geralmente uma emergência surge de forma repentina, sem ninguem esperar, é indispensável que consigas ter rapidamente acesso ao dinheiro, de forma bastante líquida.
A líquidez é a facilidade de trocar um ativo por dinheiro. No caso de uma casa, por exemplo, ela é um investimento muito pouco líquido. Até conseguires efetivar a venda, e transformares o ativo em dinheiro, o caminho ainda é muito longo.
Não se deve então colocar o dinheiro do fundo de emergência em ativos de baixa líquidez.
Em plena crise de 2008, muitas famílias tinham aplicado as suas poupanças em PPR’s, com a reforma e benefícios fiscais em perspetiva. Como durante muito tempo os PPR’s só podiam ser mobilizados na idade da reforma, muitas famílias que perderam rendimentos por causa da crise, apesar de terem muito dinheiro aplicado em PPR’s, estavam a passar grandes dificuldades face ás despesas do dia-a-dia, incluindo a renda da casa.
Isso levou a uma alteração legislativa em 2013, que passou a prever a amortização do crédito habitação nos resgates dos PPR’s, sem quaisquer penalizações.
Vamos ver então algumas das melhores opções para se aplicar o fundo de emergência:
Depósitos a prazo
Os depósitos a prazo são produtos de capital garantido até um limite de 100.000€. São também bastante líquidos, visto poderem ser mobilizados a qualquer momento (a maior parte).
É verdade que atualmente os depósitos a prazo estão a render em média perto de 0%. Mas ainda se encontram alguns bancos a fazer depósitos promocionais com taxas de juro acima de 1%. Podes aproveitar estes depósitos, e quando terminar o prazo de um deles, mobilizar o dinheiro para outro.
1) Banco Best – TANB 1,5%
O Banco Best está com um depósito promocional para novos clientes com as seguintes condições:
- TANB: 1,5% com pagamento antecipado de juros
- Prazo: 90 dias, não renovável
- Montantes: 2.500€ a 25.000€
- Mobilização antecipada: Não
- Capital garantido: Sim
Apesar da segurança e garantia de capital deste depósito a prazo, ele não permite mobilizações antecipadas. Atenção a isso.
2) Banco Carregosa – TANB 1%
À semelhança do Banco Best, o Banco Carregosa também está com um depósito a prazo promocional para novos clientes:
- TANB: 1% no vencimento ou na mobilização antecipada
- Prazo: 90 dias, não renovável
- Montantes: 25.000€ a 50.000€
- Mobilização antecipada: Sim, com penalização de juros
- Capital garantido: Sim
Este depósito a prazo já permite mobilização antecipada, mas com penalização de juros.
3) Banco Bai Europa – TANB 1,10%
O Banco Bai Europa também está com um depósito promocional para novos clinetes:
- TANB: 1,10% no vencimento
- Prazo: 90 dias, não renovável
- Montantes: 2.500€ a 100.000€
- Mobilização antecipada: Não
- Capital garantido: Sim
Após o vencimento deste depósito promocional, o Banco Bai Europa tem depósitos a prazo para clientes ativos, com TANB até 1,20% e prazos mais alargados, permitindo também a mobilização antecipada.
Certificados de aforro
Os certificados de aforro são um produto de poupança que tem como base dívida pública, ou seja, estás a emprestar dinheiro ao Estado Português. Por norma o risco deste tipo de produto em Portugal, é quase nulo, visto a probabilidade de o Estado falir ser diminuta.
Este produto atrai as poupanças de muitos portugueses, pois existe a garantia total do capital inicial. O seu rendimento é superior ao dos depósitos a prazo, nos dias de hoje.
É um produto de capitalização trimestral, ou seja, de três em três meses vencem-se juros, mas em vez desses juros serem debitados na tua conta, os mesmos são acumulados juntamente com o capital investido. Assim o valor do teu certificado passa a ser Capital Inicial + Juros Vencidos, para desta forma gerarem mais juros e criando juros compostos.
Tem em atenção que os certificados de aforro tem um período mínimo de investimento de 3 meses sobre o qual não podes fazer mobilizações, e que existe penalização de juros caso resgates o certificado a meio de cada trimestre.
A taxa de juro dos Certificados de Aforro é determinada mensalmente, no antepenúltimo dia útil do mês, para estar em vigor durante o mês seguinte, e é calculada através da soma da média dos valores da Euribor (E) a três meses observados nos 10 dias úteis anteriores, com 1%.
Taxa de juro = E3+1%
Deste cálculo não pode resultar uma taxa base superior a 3,5% nem inferior a 0%.
Fundos de tesouraria
Estes fundos investem predominantemente em aplicações de curto prazo e de elevada liquidez, como tradicionalmente são os títulos de dívida pública.
Os fundos de tesouraria só podem ser considerados enquanto instrumentos de proteção contra a inflação, e não como formas de rentabilização do património, já que raramente conseguem oferecer rentabilidades superiores à inflação.
Estas características de baixo risco e alta líquidez, fazem deste tipo de fundos uma boa opção para o fundo de emergência.
Vejamos as rentabilidades de vários fundos de tesouraria em Portugal:
E depois de usar o fundo de emergência?
Quando se usa o fundo de emergência, ou parte dele, há que repô-lo novamente, para garantir que estamos prontos para enfrentar os próximos desafios financeiros. Já dizia um velho sábio: “Mais vale prevenir do que remediar”.
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Disclaimer: Este artigo não constitui recomendação de compra ou venda de nenhum ativo. O intuito é contribuir com conhecimento e educação financeira para o investidor tirar as suas próprias conclusões, tendo em conta os seus objetivos e perfil de investimento.