Nos últimos tempos muito se tem falado em Bitcoin. A sua valorização tem sido astronómica e até já algumas empresas começaram a colocar parte do seu capital nesta moeda digital. Mas será que sabes ao certo o que é a Bitcoin, e se ela é algo com que iremos contar no futuro?
Neste artigo mostro tudo o que precisas saber sobre a Bitcoin!
O que é a Bitcoin?
A Bitcoin é um tipo de moeda virtual, chamada de criptomoeda.
Ao ser virtual, ela é uma moeda invisível, pois não a consegues ver nem tocar, ao contrário do dinheiro físico tradicional, ou do ouro ou da prata.
A Bitcoin é composta por códigos digitais encriptados, funcionando de maneira descentralizada, ou seja, não tem nenhum Banco Central ou Governo que controle a sua emissão ou transações.
O seu valor é determinado livremente pelas pessoas no mercado.
De forma a garantir a segurança das suas transações, e sendo ela um software de código aberto, a Bitcoin é sustentada por uma rede de computadores distribuída por todo o mundo (peer-to-peer). Todas as suas movimentações são registadas numa base de dados universal, criptografada e compartilhada por todos os seus utilizadores, o blockchain. No sistema atual, cada banco detém e controla o seu registo de transações. O blockchain garante a verificação, aprovação e segurança de cada transação. Este sistema funciona sem qualquer interrupção há quase 10 anos, 24 horas por dia.
Como funciona a Bitcoin
A Bitcoin funciona como uma espécie de compartilhamento de ficheiros na internet, mas focado para a transação de moedas e das informações sobre essas negociações.
Através do sistema blockchain, cada transação de Bitcoin é verificada e aprovada por vários computadores que realizam este trabalho em qualquer canto do globo.
A validação do sistema é feita por todos os computadores que se voluntariam para aprovar cada operação, através de algoritmos matemáticos complexos.
Esse processo, conhecido como “mineração”, adiciona as informações da operação em blocos digitais. A integridade e ordem cronológica dessa cadeia de blocos são protegidas por criptografia. O blockchain é assim uma espécie de registo geral da bitcoin.
De notar que, apesar de existir esses registos, e eles serem públicos, todas as transações são feitas de forma anónimas, pois todas as carteiras pessoais são reconhecidas por um número, e não pelo nome do utilizador.
Eis um infográfico com a explicação da validação das transações de bitcoins:
Como comprar Bitcoins?
Existem três formas de comprar Bitcoins: Através de mineração, através de uma empresa que faça esse serviço online, chamada de exchange, ou realizando atividades ganhando fragmentos de Bitcoins de forma gratuita.
1. Mineração
É possível adquirir Bitcoins através da mineração. No entanto, vais precisar de comprar um computador específico para isso, muito potente e ceder o seu poder computacional à rede, para validar transações. Ao fazeres isso, serás recompensado com bitcoins a cada bloco digital minerado.
Não é uma máquina comum que consegue acompanhar este processo, pois ele gera altos custos com energia e manutenção, além da necessidade de ter softwares especializados. Com um laptop comum, podes demorar anos para criar um único bitcoin.
Nos últimos anos deu-se uma prática ilegal comum neste ramo, com vista a acelerar a mineração, chamada de CryptoJacking. Ele consiste em instalar um malware no computador das vítimas, de forma a explorar os recursos do seu computador, com o objetivo de fazer mineração e gerar moedas.
2. Plataformas próprias
Outra das formas de negociar Bitcoins é comprando em plataformas próprias na internet. Nas corretoras tradicionais de bolsa de valores, como a Degiro ou a Trading212, não dá para comprar criptomoedas. Portanto terás de criar uma conta numa plataforma, como a Binance ou a Coinbase.
Nessas plataformas irás criar a tua “carteira virtual”. Depois de associares um cartão bancário, poderás trocar dinheiro físico por dinheiro virtual.
Vamos então ver como funciona a compra e venda de criptomoedas numa das plataformas mais usadas em todo o mundo, a Coinbase.
Coinbase
A Coinbase tem duas versões: A versão mais básica, chamada de Coinbase, e a versão profissional chamada de Coinbase Pro.
Ao criares conta na Coinbase, ela pode ser usada também na Coinbase Pro. No entanto, as criptomoedas que compras na Coinbase não podem ser usadas na Coinbase Pro e vice-versa, mas podes transferir fundos de uma plataforma para a outra.
– Interface visual
Em baixo estão as páginas iniciais de cada plataforma. A principal diferença entre ambas, é que a Coinbase parece ser muito simples, enquanto a Coinbase Pro pode parecer bastante intimidativo. Contudo, todas as negociações ocorrem no mecanismo da Coinbase Pro. A Coinbase oferece então taxas significativamente mais altas por essa interface minimalista.
- Coinbase (disponível em coinbase.com)
- Coinbase Pro (disponível em pro.coinbase.com)
– Negociação
Os mecanismos de negociação entre ambas as plataformas também são muito semelhantes. Após associares uma conta bancária à tua conta, necessitas de fazer um depósito para conseguir começar a negociar. Depósito esse que é uma transferência bancária SEPA para a Coinbase ou para a Coinbase Pro. Normalmente essa transferência demora entre 1 a 3 dias úteis a ser processada.
Ao receber os fundos na tua conta, podes então efetuar uma ordem de compra. Depois de escolher a criptomoeda pretendida (neste caso a Bitcoin), podes colocar o valor que pretendes negociar, e ele irá automaticamente calcular a percentagem da criptomoeda a que esse valor corresponde. Mesmo que não tenhas dinheiro suficiente para comprar uma bitcoin inteira, podes adquirir apenas uma parte dela, o que é uma grande vantagem.
É possível também negociar entre pares de criptomoedas. Ou seja, consegues comprar Bitcoin através de Ethereum, por exemplo, que é outra criptomoeda.
- Coinbase
- Coinbase Pro
– Comissões
Estas plataformas têm uma forma bastante complexa de cobrar comissões. Vamos então ver as diferenças entre elas:
- Coinbase
Na compra ou venda de criptomoedas na Europa, a Coinbase cobra uma taxa de 1,49% em cada trasação.
Isso significa que se fizeres uma ordem o de compra de 100€ o valor total deduzido será de 101,49€. Além disso, ao fazeres uma ordem de venda de $ 100, o valor total recebido será de $ 98,51.
Se pretenderes fazer uma compra instantânea (sem necessidade de transferência de fundos), isso é possível utilizando um cartão de crédito ou débito, a uma taxa de 3,99%.
A Coinbase cobra também uma taxa de 0,15% para transferências da plataforma para a conta bancária.
Resumindo:
1. Taxa de 1,49% por cada compra e venda
2. Taxa de 3,99% por cada compra instantânea com cartão de crédito/débito
3. Taxa de 0,15% para transferir dinheiro para a conta bancária
- Coinbase Pro
A Coinbase Pro utiliza o modelo de taker-maker para as suas taxas.
Quando crias uma ordem que é imediatamente correspondida, és considerado um taker (tomador) e pagas uma taxa entre 0,04% e 0,50%.
Quando fazes uma ordem que não é imediatamente correspondida a nenhuma ordem existente no mercado, esse pedido é colocado no livro de pedidos. Se outra pessoa fizer um pedido que corresponda ao teu, serás considerado o maker (fabricante) e pagarás uma taxa entre 0,00% e 0,50%.
Quando fazes uma ordem que é parcialmente correspondido imediatamente, pagas uma taxa de taker por essa parte. O restante do pedido é colocado no livro de pedidos e, quando correspondido, é considerado um pedido de maker.
Na tabela abaixo estão as taxas correspondentes ao montante de uma transação:
Intervalo de valor | Taxa de Taker | Taxa de Maker |
Até $10k | 0.50% | 0.50% |
$10k – $50kr | 0.35% | 0.35% |
$50k – $100k | 0.25% | 0.15% |
$100k – $1m | 0.20% | 0.10% |
$1m – $10m | 0.18% | 0.08% |
$10m – $50m | 0.15% | 0.05% |
$50m – $100m | 0.10% | 0.00% |
$100m – $300m | 0.07% | 0.00% |
$300m – $500m | 0.05% | 0.00% |
$500m – $1b | 0.04% | 0.00% |
$1b+ | 0.04% | 0.00% |
3. Plataformas que distribuem gratuitamente
Existem algumas plataformas online que distribuem de forma gratuita pequenas frações de Bitcoins aos seus utilizadores, a troco de alguma ação.
Normalmente essa distribuição é na forma de Satoshis. Satoshi é a fração mais baixa de uma Bitcoin, o equivalente a 1 cêntimo no Euro. Um satoshi é igual a 0,00000001 BTC e 100 000 000 satoshi são iguais a uma Bitcoin.
Vejamos alguns sites onde isso pode ser feito:
- Coinpot: A Coinpot é uma plataforma que possibilita ao utilizador ganhar 0,0003 Bitcoin a cada 5 minutos. Esse prémio pode variar dependendo da força da GPU do computador e da percentagem de uso definida pelo utilizador. Esta é uma plataforma que paga pela mineração;
- Btcclicks: Paga até 144 Satoshis por visualização de anúncios que podem durar até 30 segundos;
- Bitcoinker : paga 58 Satoshis a cada 15 minutos apenas para o utilizador permanecer no site;
- SaruTobi : Jogo para iOS, do estilo Mario Brothers, que dá prémios que chegam até aos mil Satoshis;
- Paidbooks : Paga 150 Satoshis a cada dez minutos para ler livros.
Carteira de criptomoedas
Mas como é que eu fico com essas criptomoedas gratuitas na minha conta? É ai que entram as carteiras virtuais de criptomoedas.
Uma carteira de criptomoedas é um software ou hardware que guarda códigos associados ás criptomoedas (chamados de chaves, e que vais perceber melhor no ponto abaixo), e que interage com a blockchain, permitindo que os utilizadores recebam e enviem moedas digitais entre eles. Além disso, permite consultar e controlar a quantia que possuis de cada moeda virtual, incluindo a Bitcoin.
Para conseguires começar a usar as Bitcoins que compraste, fazer pagamentos com elas, transferir para outras pessoas ou transferir para ti as Bitcoins gratuitas que vimos acima, é necessário ter uma carteira virtual.
Muitos investidores deixam as suas criptomoedas nas plataformas de exchange, como a Coinbase ou a Binance. As exchanges são empresas semelhantes a um banco, mas muitas delas não são reguladas. Desse modo, é importante conheceres a credibilidade que ela tem e se tem histórico de burlas.
Para quem investe na Bitcoin para o longo prazo, é aconselhável ter as criptomoedas em carteiras virtuais. Para quem realiza trading diário, pode não compensar transferi-las devido às taxas, contudo deves escolher uma plataforma de confiança.
Como funcionam as carteiras?
Ao contrário das nossas carteiras tradicionais, que carregam cartões, notas e moedas, as carteiras virtuais não guardam as criptomoedas. O que elas guardam são chaves.
Deste modo, na tua carteira apenas existe um conjunto de chaves privadas (código digital seguro que fica apenas na tua carteira e que não deves partilhar de maneira nenhuma com ninguém). Essas chaves privadas, por sua vez, estão ligadas a uma chave pública (um código público que pode ser visto por qualquer um e que está ligado a uma certa quantia de uma determinada moeda virtual).
Algumas carteiras permitem que os utilizadores consigam armazenar mais de um tipo de moeda virtual.
As carteiras podem ser de três tipos distintos: software, hardware e papel.
Software
Formato Desktop (instaladas num computador), mobile (aplicação móvel, como a wallet bitcoin, que te permite, por exemplo, pagar um almoço num restaurante que aceite Bitcoins como meio de pagamento) ou online (guardadas na cloud);
Hardware
Numa carteira de hardware, as chaves privadas são guardadas num dispositivo parecido com uma pena USB. Até agora o único dispositivo de hardware certificado é da marca Ledger. Apesar das carteiras de hardware efetuarem as transações através da Internet, são guardadas offline o que aumenta o nível de segurança;
Papel
As carteiras de papel são muito fáceis de usar, bastante seguras por não estarem disponíveis online, mas mais fáceis de se perderem (como o nome indica, são apenas um pedaço de papel).
Ao fazeres o registo numa plataforma de exchange e comprares critptomoedas, automaticamente crias uma carteira virtual. Na Coinbase, por exemplo, como ela é considerada uma “hosted wallett” não te dá acesso ás chaves privadas. Podes, no entanto, transferir as criptomoedas para uma das walletts acima.
Uma dica para quanto estiveres a criar uma wallett: Nunca te esqueças da password de acesso, ou poderás perder as Bitcoins para sempre!
Vê aqui o caso de um programador alemão que se esqueceu da sua password de acesso à wallett e perdeu cerca de 7000 bitcoins, o equivalente a 220 milhões de Euros.
O sistema de segurança da Bitcoin prevê a utilização de uma palavra-chave para desbloquear a chamada IronKey, um conjunto de códigos que permitem abrir a carteira virtual e aceder às moedas digitais. O sistema permite até 10 tentativas. Depois disso inicia um processo de encriptação total, bloqueando o acesso às criptomoedas adquiridas.
A Bitcoin é segura?
Não é novidade que o mundo está a caminhar rapidamente para a imersão digital.
Sendo a Bitcoin uma moeda que existe apenas virtualmente, sem qualquer regulação, é normal que desperte algumas preocupações.
A Bitcoin nunca foi hackeada e é praticamente impossível que isso aconteça devido à complexidade da sua rede mundial, assente no blockchain.
Tal como vimos acima, o blockchain funciona como uma espécie de livro de registos da Bitcoin. Ele armazena todas as informações de transações realizadas, e pode ser acedido por qualquer pessoa (o seu funcionamento está representado na imagem abaixo). Portanto se quiseres ir consultar as primeiras compras de Bitcoin da história podes fazê-lo, mas não irás conhecer a identidade de quem as fez, pois essas informações estão criptografadas.
O sistema também não permite que alguém realize alterações ás transações já feitas. Isso significa que, caso te arrependas de realizar alguma ordem, não tens como voltar atrás depois de efetivada a transação.
No limite o que pode acontecer é uma plataforma de compra e venda de bitcoins, tal como a Coinbase, ser hackeada. Por isso, é importante escolher uma plataforma confiável e que adote protocolos avançados de segurança digital.
Ou seja, são as instituições que podem estar vulneráveis a ataques virtuais, mas não a Bitcoin.
E os impostos?
Aos olhos da lei, as criptomoedas ainda não existem, nem têm valor.
Segundas as informações do fisco, os ganhos não podem ser tributados como mais-valias. Isto porque a lei prevê que isso só aconteça com os “ganhos derivados dos factos” previstos no código do IRS, como é o caso de partes sociais e outros valores mobiliários, como as ações ou fundos de investimento. Desta forma, as criptomoedas não se enquadram em nenhum dos casos referidos na lei.
Os seus lucros e prejuízos não fazem parte da vida correntes dos produtos financeiros e como tal, ainda não faz sentido tributar algo que, perante a lei, não existe. Na eventualidade desta moeda virtual ser enquadrada para fins de cobrança de impostos, irá ter de haver uma profunda alteração ao sistema financeiro.
Futuro da Bitcoin
Apesar da valorização supersónica da moeda digital, ainda pode haver muito espaço de crescimento no futuro.
Vejamos alguns pontos que apoiam a minha teoria:
1. Escassez
A Bitcoin foi projetada para ter um limite finito. Ou seja, há um limite máximo de quantas Bitcoin podem existir, que são exatamente 21 milhões.
Originalmente, cada bloco “minerado” vinha com 50 Bitcoins. Desde 2012, o número de Bitcoins por bloco é reduzido pela metade a cada quatro anos. Hoje, cada bloco tem 12,5 Bitcoins e estima-se que o último Bitcoin seja minerado apenas em 2140.
O ponto positivo disso é que a Bitcoin é uma moeda com inflação controlada, já que existe um limite máximo de moeda que pode ser emitida. Isso impede que sejam criadas Bitcoins indefinidamente, algo que acontece sempre que um governo quer imprimir mais moeda, causando inflação.
Dos 18,5 milhões de Bitcoins que existem atualmente, cerca de 20%, estão em wallets perdidas ou bloquedas, de acordo com a empresa de dados de criptomoeda Chainalysis Wallet Recovery Services. Sendo a Bitcoin uma moeda escassa é um grande ponto a favor dela.
2. Impressão de dinheiro sem precedentes
Cerca de 20% dos dólares em circulação foram impressos desde o inicio da pandemia de Covid-19. Com toda essa impressão, e uma licença para imprimir mais, é lógico supor que o preço do que é escasso ficará mais alto.
Futuramente ela até pode ser a nova moeda utilizada para preservação de capital, substituindo o ouro, e atingindo o valor de mercado de $7 triliões a que o ouro hoje se encontra. Nessa altura, o preço da Bitcoin atingiria o meio milhão de dólares.
3. Alta procura
O fato das bolsas mundiais estarem a atingir patamares de valuation historicamente caros, ou seja, a maior parte das empresas está a um preço sobrevalorizado, faz com que muitos investidores estejam a procurar a Bitcoin como uma opção para diversificar e proteger o portfólio.
4. FOMO
“Fear of missing out”, o medo de ficar de fora. Muitos investidores, e mesmo pessoas que nunca pensaram em investir, animam-se com a contínua subida do preço e da valorização da Bitcoin, o que faz com que as pessoas queiram entrar para não perder a oportunidade. Isso pode fazer o preço subir ainda mais.
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Disclaimer: Este artigo não constitui recomendação de compra ou venda de nenhum ativo. O intuito é contribuir com conhecimento e educação financeira para o investidor tirar as suas próprias conclusões, tendo em conta os seus objetivos e perfil de investimento.